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sábado, 6 de abril de 2013

Por responsabilidade, o FITEI recusa-se a morrer


Por responsabilidade, o FITEI recusa-se a morrer
Comunicado da Direcção

A Direcção-Geral das Artes publicou a sua proposta de decisão para os apoios directos anuais e plurianuais ao teatro. Propõe não atribuir qualquer apoio ao FITEI - Festival Internacional de Teatro de Expressão Ibérica. Ao longo dos seus 36 anos de história, o FITEI, primeiro festival de teatro em Portugal, realizou-se ininterruptamente, sempre com apoio financeiro público. 

A relação que ao longo das décadas foi criando com a cidade do Porto, tanto com o público como com os criadores, as pontes de intercâmbio que fundou com países essenciais da história do teatro contemporâneo, como Espanha e países da América Latina, a ligação à criação emergente dos países africanos da lusofonia e a promoção que tem levado a cabo do teatro português fora de portas foram factores desconsiderados pelo júri que avaliou a candidatura.

O país e a cidade que viram nascer o FITEI em 1978 eram substancialmente diferentes. As salas de teatro tinham poucas condições técnicas e de acolhimento, o tecido profissional era frágil e pouco numeroso. O FITEI assistiu, promoveu e acompanhou a enorme evolução: equipamentos foram construídos ou remodelados e com eles surgiram novos espaços de programação; foram criadas escolas de teatro e com elas novas companhias. Com os objectivos sólidos, que nunca se perderam, foi com esta cidade em constante transformação que o FITEI sempre se relacionou.

Os seus espectáculos além de terem passado por praticamente todas as salas de teatro portuenses, também saíram para o espaço público assumindo-o como palco de acção, promovendo a defesa da democratização cultural e artística. As políticas culturais locais e centrais da última década, e de forma mais notória no último triénio, provocaram a degradação da cena teatral portuense, tanto em termos de oferta de programação como em termos de criação/produção. A existência do FITEI torna-se ainda mais premente no quadro actual. As ligações que soube criar e manter com as estruturas e agentes culturais da cidade, alimentam a sua continuação. E no FITEI, nomes consagrados e novos valores estão lado a lado. Em 2011, foi mesmo dedicado aos grupos emergentes um ciclo de programação autónomo, o ciclo Vão de Escada.

Com características únicas no país, o FITEI consolidou-se desde há muito como plataforma consultada por programadores do mundo de expressão ibérica, tornando-se em centro promotor da internacionalização de criadores portugueses nomeadamente no Brasil e em Espanha. 

Desde 2006, as extensões do FITEI fora do Porto tornaram-se norma, colocando muitos espectáculos de companhias estrangeiras em cidades de norte a sul de Portugal continental e na Galiza, rentabilizando, responsavelmente, o custo base elevado das viagens intercontinentais, ampliando o público do programa do festival.

O FITEI integra, a partir deste ano, o projecto ESMARK (European Scene Market) promovido pela Dirección General de Políticas Culturales de Junta de Castilla y León, com a Feria de Teatro de Castilla y León (Espanha) e o Festival de Teatro Don Quixote (França). Financiado com fundos europeus. Esta plataforma promoverá a circulação de profissionais das artes cénicas entre os três países, propondo-se em concreto que cada uma das entidades parceiras indique pelo menos três companhias do seu país para a programação dos outros dois parceiros.

Para 2013, António Grassi /FUNARTE - Comissário-geral do Ano do Brasil em Portugal - confiou no FITEI para programar dez companhias brasileiras, sendo que uma delas vai assegurar o encerramento da 36ª edição do FITEI e da programação daquele evento. 

O reconhecimento internacional pontua, aliás, toda a existência do FITEI, sendo de destacar o Prémio Internacional Federico García Lorca (1995), o Prémio Max Hispanoamericano de las Artes Escénicas (2008), o título de membro honorário do CELCIT - Centro Latinoamericano de Creación e Investigación Teatral (2010).
O FITEI é Instituição de Utilidade Pública desde 1987. A DGArtes e todos os institutos e organismos congéneres que a precederam apoiaram sempre financeiramente o FITEI, um significativo investimento público.

É de grande irresponsabilidade, no papel de redistribuidor do dinheiro dos contribuintes, que a DGArtes funcione num quadro que menospreza o histórico das entidades candidatas, o histórico da sua implantação e influência social e também o histórico do investimento público, que nesta proposta de decisão, levianamente, é transformado em desperdício.

A responsabilidade do FITEI é maior. É perante o seu público, perante companhias e criadores, perante a dedicada equipa de trabalho, perante a cidade do Porto e todo o mundo de expressão ibérica. É pelo teatro. 
Por responsabilidade, o FITEI recusa-se a morrer.

Porto, 5 de Abril de 2013
A Direcção do FITEI

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FITEI em números: O FITEI programou 242 vezes companhias de Portugal, 180 de Espanha, 75 do Brasil, 24 de Moçambique, 16 de Venezuela, 15 de Angola, 14 da Argentina, 9 de Cuba, 7 de Cabo Verde, 6 da Colômbia e do México, 5 do Peru, 4 do Chile, do Equador e de Porto Rico, 3 do Uruguai, 2 da Guatemala e do Paraguai, 1 da Guiné-Bissau, de S.Tomé e Príncipe, de Timor-Leste, da Bolívia, da Costa Rica, de El Salvador, de Macau, do Panamá e da República Dominicana. Fora do âmbito da expressão ibérica actuaram 8 companhias de França, 4 de Itália e da Alemanha e 1 de cada um dos seguintes países: Reino Unido, Canadá, Bulgária, Checoslováquia, Grécia, Japão e Estados Unidos da América. Foram ainda apresentadas 23 co-produções internacionais. No total, foram programados 697 espectáculos e realizadas 1.409 representações, para 945.689 espectadores, para além de inúmeras de actividades paralelas, actividades extra-programa e espectáculos em extensão. 


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