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domingo, 25 de maio de 2008

Actualizando - "O Poeta Nu", 15 de Maio 2008

Estou um bocado atrasada em relação aos acontecimentos vividos e que me apetecia falar deles aqui no meu humilde blog... mas tantas coisas aconteceram neste curto espaço de tempo, que tenho andado um pouco atordoada... vou, de qualquer forma, tentar actualizar os últimos acontecimentos!
O primeiro destes eventos foi a última Quinta de Leitura, "O Poeta Nu" - Jorge de Sousa Braga. Para que se orientem aqui fica um dos seus mais emblemáticos poemas:

Portugal

Portugal
Eu tenho vinte e dois anos e tu às vezes fazes-me sentir como se tivesse
oitocentos
Que culpa tive eu que D. Sebastião fosse combater os infiéis ao norte de
África
só porque não podia combater a doença que lhe atacava os órgãos genitais
e nunca mais voltasse
Quase chego a pensar que é tudo uma mentira
que o Infante D. Henrique foi uma invenção do Walt Disney
e o Nuno Álvares Pereira uma reles imitação do Príncipe Valente
Portugal
Não imaginas o tesão que sinto quando ouço o hino nacional
(que os meus egrégios avós me perdoem)
Ontem estive a jogar póker com o velho do Restelo
Anda na consulta externa do Júlio de Matos
Deram-lhe uns electro-choques e está a recuperar
à
parte o facto de agora me tentar convencer que nos espera um futuro de
rosas
Portugal
Um dia fechei-me no Mosteiro dos Jerónimos a ver se contraía a febre do
Império
mas a única coisa que consegui apanhar foi um resfriado
Virei a Torre do Tombo do avesso sem lograr uma pérola que fosse
das rosas que Gil Eanes trouxe do Bojador
Portugal
Vou contar-te uma coisa que nunca contei a ninguém
Sabes
Estou loucamente apaixonado por ti
Pergunto a mim mesmo
Como me pude apaixonar por um velho decrépito e idiota como tu
mas que tem o coração doce ainda mais doce que os pastéis de Tentugal
e o corpo cheio de pontos negros para poder espremer à minha vontade
Portugal estás a ouvir-me?
Eu nasci em mil novecentos e cinquenta e sete Salazar estava no poder nada
de ressentimentos
um dia bebi vinagre nada de ressentimentos
Portugal
Sabes de que cor são os meus olhos?
São castanhos como os da minha mãe
Portugal
gostava de te beijar muito apaixonadamente
na boca
Jorge Sousa Braga

Com uma plateia marcada pela presença do senhor presidente do FCP, Pinto da Costa (afinal ele até vai à poesia... quererá isto dizer alguma coisa???), o espectáculo começou com a performance "Performance Liquida" de e com a inconfundível Margarida Mestre com mais uma das suas minimalistas e fantásticas actuações. Desta vez a deixar-nos a todos cheios de sede e com o intervalo a surgir no momento mais apropriado!
Seguiu-se Élèonore Didier, com uma performance ligada à sua linguagem mãe - a dança - e mais uma vez polémica e a não deixar ninguém indiferente. "Laisservenir", houve quem adorou e houve quem odiou! Eu gostei. Gostei da frieza e da crueza da linguagem. Gostei da coragem da performer, ali num estado de intimidade com o público muito difícil! Eu nunca tinha visto esta peça da Élèonore e soube depois que era suposto ela estar nua por baixo do curto vestido que levava... na minha opinião teria sido uma nudez gratuita, por isso acho que fez bem em não se despir. A peça não precisa dela nua, seria demasiado evidente, seria vulgarizar todo o trabalho!
Após "Laisservenir" tivemos uma conversa bem disposta entre o poeta, Jorge Sousa Braga e Nuno Artur Silva. Na minha opinião Nuno Artur Silva protagonizou os momentos mais infelizes da noite ao opinar criticamente as performances, em especial a da Élèonore. A meu ver (já sei que sou suspeita) de uma forma muito pouco ética tendo em conta que ele participava no mesmo espectáculo! Para mim, não foi humor, foi falta de gosto e em especial falta de respeito para com o trabalho de um artista (atenção que não está em questão se gosta ou não...).
Após a conversa vieram as leituras dos fantásticos poemas do autor convidado em duas séries. Primeiro Sandra Salomé e Filipa Leal e depois Pedro Lamares e Sofia Grillo (uma estreia nas Quintas). O último par teve uma intervenção muito boa!
Antes do último intervalo ainda assistimos ao vídeopoema do poema "Portugal" por António Durães (voz), Pedro Guimarães (imagem) e Paulo Sousa (som), um dos momentos altos da noite. Por fim e para terminar lá se apreciou a grave voz de Mazgani... Como sempre foi um belíssimo espectáculo a deixar desde já acesa a vontade de ver o próximo!

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