sábado, 29 de setembro de 2007
Desafio da Volta
Os desafios na blogoesfera não param! Desta vez não sei bem de onde partiu, a mim chegou-me, novamente, pela Calimera.
No Desafio da Volta pretende-se completar uma frase com algo que a maioria dos bloggers que visitam o blog não saiba, depois, claro está, há que passá-lo a outrém...
E a frase é:
Se vocês me conhecessem realmente saberiam que...
a minha família é o mais importante da minha vida...
o meu companheiro compreende-me até ao fundo da minha alma...
sou uma verdadeira mãe galinha...
apesar de todas as dificuldades sou feliz...
tenho paixão pelo meu trabalho...
não suporto incompetências...
não suporto intriga e mentira...
sou verdadeiramente amiga dos meus amigos...
adoro uma boa farra...
adoro uma boa conversa...
não percebo porque resopndo a estes desafios :-)
Para terminar passo o desafio, como é habitual a todos os meus visitantes! E ohem que não é tão fácil como parece responder a este!
No Desafio da Volta pretende-se completar uma frase com algo que a maioria dos bloggers que visitam o blog não saiba, depois, claro está, há que passá-lo a outrém...
E a frase é:
Se vocês me conhecessem realmente saberiam que...
a minha família é o mais importante da minha vida...
o meu companheiro compreende-me até ao fundo da minha alma...
sou uma verdadeira mãe galinha...
apesar de todas as dificuldades sou feliz...
tenho paixão pelo meu trabalho...
não suporto incompetências...
não suporto intriga e mentira...
sou verdadeiramente amiga dos meus amigos...
adoro uma boa farra...
adoro uma boa conversa...
não percebo porque resopndo a estes desafios :-)
Para terminar passo o desafio, como é habitual a todos os meus visitantes! E ohem que não é tão fácil como parece responder a este!
sexta-feira, 28 de setembro de 2007
Estou de volta!!!
Pois é. O texto que podem ler em baixo é para mim um dos mais belos textos que já li!
Filipa Leal que foi ontem a convidada das Quintas de Leitura é de facto uma pequenina grande poetisa!
Foi para mim um prazer enorme trabalhar ontem neste espectáculo. A paixão com que todos os intervenientes se entregaram ao espectáculo é contagiante e empolgante!
Entretanto a Vânia casa daqui a 8 dias... está quase minha amiga! Por isso lá fomos todos até ao Café as Artes no fim do espectáculo para beber um copito! Ontem até a Cristina foi o que é coisa rara, mas como a Vânia vai estar fora 3 semanas foi assim em jeito de despedida.
Como sabia que a noite ia ser mais loga que o habitual, combinei com o meu João que se ele se visse atrapalhado com os míudos ligava-me... mas ele não ligou e eu acabei por ter uma noite muito boa à conversa com o Pedro Lamares até bem tarde... ou cedo... conforme o ponto de vista...
A seguir ao Café das Artes fomos até ao Contagiarte para conversarmos mais um bocadinho, o Hugo Moutinho juntou-se a nós... Eu não conhecia o Contagiarte e gostei bastante. Um espaço muito bem aproveitado com salas para exposições e performances, com um fantástico espaço ao ar livre e com espaços onde se consegue conversar sem ser aos gritos... nota 10 para o Contagiarte!
Ah... parece que estou de volta às minhas bloguisses. Não é que a ausência tenha sido muito longa, foram só 10 diazinhos e não estive em ausência total pois visitei os meus blogues favoritos e lá fui deixando alguns comentários...
Mas esta altura do ano é particularmente esgotante para mim. É o ajustar de novo as rotinas às escolas dos míudos, às actividades, agora também com o bébé. Pelo meio há que gerir o trabalho para que não me descuide com as milhentas preocupações que me assolam.
Nem sempre é fácil e é muito stressante e cansativo.
Obrigada pelas mensagens que me foram deixando. É bom saber que sentem a minha falta aqui na blogosfera!
Acho que agora volto mais ou menos ao normal... não esquecer que agora tenho menos tempo pois o privilégio da dispensa de duas horas diárias do trabalho já acabou... o Sérginho já vai fazer 14 meses! E acreditem que sinto muita falta daquelas duas horitas!
E hoje fico por aqui!
Filipa Leal que foi ontem a convidada das Quintas de Leitura é de facto uma pequenina grande poetisa!
Foi para mim um prazer enorme trabalhar ontem neste espectáculo. A paixão com que todos os intervenientes se entregaram ao espectáculo é contagiante e empolgante!
Entretanto a Vânia casa daqui a 8 dias... está quase minha amiga! Por isso lá fomos todos até ao Café as Artes no fim do espectáculo para beber um copito! Ontem até a Cristina foi o que é coisa rara, mas como a Vânia vai estar fora 3 semanas foi assim em jeito de despedida.
Como sabia que a noite ia ser mais loga que o habitual, combinei com o meu João que se ele se visse atrapalhado com os míudos ligava-me... mas ele não ligou e eu acabei por ter uma noite muito boa à conversa com o Pedro Lamares até bem tarde... ou cedo... conforme o ponto de vista...
A seguir ao Café das Artes fomos até ao Contagiarte para conversarmos mais um bocadinho, o Hugo Moutinho juntou-se a nós... Eu não conhecia o Contagiarte e gostei bastante. Um espaço muito bem aproveitado com salas para exposições e performances, com um fantástico espaço ao ar livre e com espaços onde se consegue conversar sem ser aos gritos... nota 10 para o Contagiarte!
Ah... parece que estou de volta às minhas bloguisses. Não é que a ausência tenha sido muito longa, foram só 10 diazinhos e não estive em ausência total pois visitei os meus blogues favoritos e lá fui deixando alguns comentários...
Mas esta altura do ano é particularmente esgotante para mim. É o ajustar de novo as rotinas às escolas dos míudos, às actividades, agora também com o bébé. Pelo meio há que gerir o trabalho para que não me descuide com as milhentas preocupações que me assolam.
Nem sempre é fácil e é muito stressante e cansativo.
Obrigada pelas mensagens que me foram deixando. É bom saber que sentem a minha falta aqui na blogosfera!
Acho que agora volto mais ou menos ao normal... não esquecer que agora tenho menos tempo pois o privilégio da dispensa de duas horas diárias do trabalho já acabou... o Sérginho já vai fazer 14 meses! E acreditem que sinto muita falta daquelas duas horitas!
E hoje fico por aqui!
A Cidade Líquida de Filipa Leal
A cidade movia-se como um barco. Não. Talvez o chão se abrisse em algum lado. Não. Era a tontura. A despedida. Não. A cidade talvez fosse de água. Como sobreviver a uma cidade líquida?
(Eu tentava sustentar-me como um barco.)
As aves molhavam-se contra as torres. Tudo evaporava: os sinos, os relógios, os gatos, o solo. Apodreciam os cabelos, o olhar. Havia peixes imóveis na soleira das portas. Sólidos mastros que seguravam as paredes das coisas. Os marinheiros invadiam as tabernas. Riam alto do alto dos navios. Rompiam a entrada dos lugares. As pessoas pescavam dentro de casa. Dormiam em plataformas finíssimas, como jangadas. A náusea e o frio arroxeavam-lhe os lábios. Não viam. Amavam depressa ao entardecer. Era o medo da morte. A cidade parecia de cristal. Movia-se com as marés. Era um espelho de outras cidades costeiras. Quando se aproximava, inundava os edifícios, as ruas. Acrescentava-se ao mundo. Naufragava-o. Os habitantes que a viam aproximar-se ficavam perplexos a olhá-la, a olhar-se. Morriam de vaidade e de falta de ar. Os que eram arrastados agarravam-se ao que restava do interior das casas. Sentiam-se culpados. Temiam o castigo. Tantas vezes desejaram soltar as cordas da cidade. Agora partiam com ela dentro de uma cidade líquida.
(Eu ficara exactamente no lugar de onde saiu.)
In A Cidade Líquida, de Filipa Leal.
(Eu tentava sustentar-me como um barco.)
As aves molhavam-se contra as torres. Tudo evaporava: os sinos, os relógios, os gatos, o solo. Apodreciam os cabelos, o olhar. Havia peixes imóveis na soleira das portas. Sólidos mastros que seguravam as paredes das coisas. Os marinheiros invadiam as tabernas. Riam alto do alto dos navios. Rompiam a entrada dos lugares. As pessoas pescavam dentro de casa. Dormiam em plataformas finíssimas, como jangadas. A náusea e o frio arroxeavam-lhe os lábios. Não viam. Amavam depressa ao entardecer. Era o medo da morte. A cidade parecia de cristal. Movia-se com as marés. Era um espelho de outras cidades costeiras. Quando se aproximava, inundava os edifícios, as ruas. Acrescentava-se ao mundo. Naufragava-o. Os habitantes que a viam aproximar-se ficavam perplexos a olhá-la, a olhar-se. Morriam de vaidade e de falta de ar. Os que eram arrastados agarravam-se ao que restava do interior das casas. Sentiam-se culpados. Temiam o castigo. Tantas vezes desejaram soltar as cordas da cidade. Agora partiam com ela dentro de uma cidade líquida.
(Eu ficara exactamente no lugar de onde saiu.)
In A Cidade Líquida, de Filipa Leal.
terça-feira, 18 de setembro de 2007
UFA...
Pois é.
Já começou tudo!!!
Assim de repente...
O trabalho, a escola das crianças, os virús escolares, as gripes, as febres nocturnas das crianças, o sonambolismo da Leonor, os dentinhos do Sérgio, os deliríos da Andreia, o stress do João, as utopias da Margarida e o stress a chegar... o stress...
UFA... estou cansada, tão cansada que nem tenho tido pachorra para escrever aqui no meu bloguito...
Lá tenho feito as minhas visitas, alguns poucos e pequenos comentários mas... escrever e "postar" as novidades é que não tenho mesmo tido espírito...
Que me desculpem os meus visitantes... isto passa!
Já começou tudo!!!
Assim de repente...
O trabalho, a escola das crianças, os virús escolares, as gripes, as febres nocturnas das crianças, o sonambolismo da Leonor, os dentinhos do Sérgio, os deliríos da Andreia, o stress do João, as utopias da Margarida e o stress a chegar... o stress...
UFA... estou cansada, tão cansada que nem tenho tido pachorra para escrever aqui no meu bloguito...
Lá tenho feito as minhas visitas, alguns poucos e pequenos comentários mas... escrever e "postar" as novidades é que não tenho mesmo tido espírito...
Que me desculpem os meus visitantes... isto passa!
quarta-feira, 12 de setembro de 2007
Que tristeza :-(
Estou aqui a espreitar a blogoesfera e a decepção invade-me mais umas vez...
Adeus Euro 2008???
Adeus Euro 2008???
Eduardo Prado Coelho sobre Filipa Leal, in Público
AS CIDADES TÊM LUZES NAS PALAVRAS
Parece que Filipa Leal já tinha publicado dois livros de poemas, mas devo confessar que não fazia disso a mínima ideia. São eles "Lua Polaróid" e "Talvez os Lírios Compreendam". Filipa Leal nasceu no Porto em 1979. Formou-se em Jornalismo na Universidade de Westminster em Londres. Já em Portugal, tirou o Mestrado em Estudos Portugueses e Brasileiros na Universidade do Porto. A sua dissertação de mestrado intitula-se "Aspectos do cómico na poesia de Alexande O"Neill, Adília Lopes e Jorge Sousa Braga" (o que mostra a sua diversidade de interesses e leituras, procurando analisar autores consagrados como O"Neill, problemáticos como Adília Lopes, ou pouco conhecidos como Jorge Sousa Braga). É aquilo a que se chama "jornalista cultural". Dedica-se também à tradução colectiva na Casa de Mateus. Mas suponho que a sua obra poética é ainda desconhecida pela maior parte das pessoas. Acaba de publicar "A Cidade Líquida e Outras Texturas", na editora Deriva. É um livro - gostaria de o dizer com a maior convicção - de grande qualidade e de extrema originalidade. Se tivermos em conta aquilo que aparece com a poesia portuguesa mais perto de nós (onde predominam as memórias esparsas, o lirismo difuso, uma certa vulnerabilidade), podemos afirmar sem hesitações que Filipa Leal tem uma personalidade fortemente demarcada. Fui muito surpreendido pelo indiscutível valor do seu livro mais recente. Logo na dedicatória encontramos uma dessas subtilezas gramaticais que fazem a força da poesia de Filipa Leal: "aos amigos que me habitam a cidade" - em que os amigos habitam ao mesmo tempo a cidade, e habitam aquela que é o centro e o eixo destas poemas -, "à família que vai fazendo de mim uma casa onde se possa entrar - e aqui temos uma família que faz de mim uma casa". Do ponto de vista do estilo, Filipa Leal utiliza os mais variados procedimentos: há uma sugestão insistente de oralidade ("Ela disse: Sou uma cidade esquecida. / Ele disse: Sou um rio"), um jogo muito sóbrio de usos da metáfora (nenhuma dimensão decorativa ou expressiva, nenhum lirismo derramado), uma distorsão permanente da forma habitual das frases ("Naufragava-o"), um sentido da redundância por vezes semântica ("Riam alto do alto dos navios"). Na definição poética da "cidade líquida", temos como fio condutor a relação entre a cidade e os barcos. Mas isto vai mais longe. Inesperadas enumerações, uso dos parênteses. Ou ainda: castigos, tonturas, despedidas. E ainda frases que se autocorrigem, frases que se desmentem. A insistência no "não". Leia-se: "A cidade movia-se como um barco. Não. Talvez o chão se abrisse em algum lado. Não. Era a tontura. A despedida. Não. A cidade talvez fosse de água. Como sobreviver a uma cidade líquida? (Eu tentava sustentar-me como um barco). As aves molhavam-se contra as torres. Tudo evaporava: os sinos, os relógios, os gatos, o solo. Apodreciam os cabelos, o olhar. Havia peixes imóveis nas soleiras das portas. Sólidos mastros que seguravam as paredes das coisas. Os marinheiros invadiam as tabernas. Riam alto do alto dos navios. Rompiam a entrada dos lugares. As pessoas pescavam dentro de casa. Dormiam em plataformas finíssimas, como jangadas. A náusea e o frio arroxeavam-lhes os lábios. Não viam. Amavam-se depressa ao entardecer. Era o medo da morte. A cidade parecia de cristal. Movia-se com as marés. (Eu ficara exactamente no lugar de onde saiu.)" O que nos deslumbra é a concisão irradiante das frases. Exemplos: "É uma cidade onde ninguém diz a verdade." "Ela que morria de medo de morrer." "Ela morria tantas vezes / porque morria de medo de morrer." "Não há na cidade um lugar / com lugar." "Só mais tarde entendi o que procurava: um mar." A cidade é triste. Há um lado chuvoso, de Inverno e fim de tarde. Há sobretudo uma imensa solidão. As pessoas andam distantes. Despedem-se dos outros e de si mesmas, morrem de uma morte clandestina. "Nos dias tristes não se fala de aves. / Liga-se aos amigos e eles não estão/ e depois pede-se lume na rua / como quem pede um coração / novinho em folha. // Nos dias tristes é Inverno / e anda-se ao frio de cigarro na mão / a queimar o vento / e diz-se bom dia! / às pessoas que passam / depois de já terem passado / e de não termos reparado nisso. // Nos dias tristes fala-se sozinho / e há sempre uma ave que pousa / no cimo das coisas / em vez de nos pousar no coração / e não fala connosco." Contudo, tu estás presente e alteras a luz de todas coisas. Suspendes o pesadelo. "A rapariga por baixo da luz verde / da árvore / parecia usar a máscara disforme dos pesadelos. //Era uma imagem nítida / quase branca. // Fumava. / olhava-se para dentro do medo / sem rosto / debruçada, lenta, circular. // Era noite. / Eu estava na rua à tua espera. / Na rua, não, no carro. / Eu estava no carro de vidros abertos / de olhos abertos / debruçada. // Mas felizmente tu chegaste / com a tua luz real (tão real) / para me interromper o pesadelo." Há um lindíssimo poema, que é um poema de amor, mas fala de outras coisas, porque o amor anda espalhado pelo mundo. Aqui o diálogo sóbrio, despojado faz-nos compreender a dureza das coisa e ao mesmo tempo a sua beleza: "Ela disse: Sou uma cidade esquecida. / Ele disse: Sou um rio. // Ficaram em silêncio à janela / cada um à sua janela / olhando a sua cidade, o seu rio // Ela disse: Não sou exactamente uma cidade, / Uma cidade é diferente de uma cidade esquecida. // Ele disse: Sou um rio exacto. // Agora na varanda / cada um à sua varanda /pedindo: Um pouco de ar entre nós. // Ela disse: Escrevo palavras nos muros que pensam em ti. / Ele disse: Eu corro. // De telefone preso entre o rosto e o ombro / para quao menos se libertassem as mãos / cada um com suas mãos libertas. / Ele temeu o adeus disse: Sou uma cidade esquecida. Ele riu."
Parece que Filipa Leal já tinha publicado dois livros de poemas, mas devo confessar que não fazia disso a mínima ideia. São eles "Lua Polaróid" e "Talvez os Lírios Compreendam". Filipa Leal nasceu no Porto em 1979. Formou-se em Jornalismo na Universidade de Westminster em Londres. Já em Portugal, tirou o Mestrado em Estudos Portugueses e Brasileiros na Universidade do Porto. A sua dissertação de mestrado intitula-se "Aspectos do cómico na poesia de Alexande O"Neill, Adília Lopes e Jorge Sousa Braga" (o que mostra a sua diversidade de interesses e leituras, procurando analisar autores consagrados como O"Neill, problemáticos como Adília Lopes, ou pouco conhecidos como Jorge Sousa Braga). É aquilo a que se chama "jornalista cultural". Dedica-se também à tradução colectiva na Casa de Mateus. Mas suponho que a sua obra poética é ainda desconhecida pela maior parte das pessoas. Acaba de publicar "A Cidade Líquida e Outras Texturas", na editora Deriva. É um livro - gostaria de o dizer com a maior convicção - de grande qualidade e de extrema originalidade. Se tivermos em conta aquilo que aparece com a poesia portuguesa mais perto de nós (onde predominam as memórias esparsas, o lirismo difuso, uma certa vulnerabilidade), podemos afirmar sem hesitações que Filipa Leal tem uma personalidade fortemente demarcada. Fui muito surpreendido pelo indiscutível valor do seu livro mais recente. Logo na dedicatória encontramos uma dessas subtilezas gramaticais que fazem a força da poesia de Filipa Leal: "aos amigos que me habitam a cidade" - em que os amigos habitam ao mesmo tempo a cidade, e habitam aquela que é o centro e o eixo destas poemas -, "à família que vai fazendo de mim uma casa onde se possa entrar - e aqui temos uma família que faz de mim uma casa". Do ponto de vista do estilo, Filipa Leal utiliza os mais variados procedimentos: há uma sugestão insistente de oralidade ("Ela disse: Sou uma cidade esquecida. / Ele disse: Sou um rio"), um jogo muito sóbrio de usos da metáfora (nenhuma dimensão decorativa ou expressiva, nenhum lirismo derramado), uma distorsão permanente da forma habitual das frases ("Naufragava-o"), um sentido da redundância por vezes semântica ("Riam alto do alto dos navios"). Na definição poética da "cidade líquida", temos como fio condutor a relação entre a cidade e os barcos. Mas isto vai mais longe. Inesperadas enumerações, uso dos parênteses. Ou ainda: castigos, tonturas, despedidas. E ainda frases que se autocorrigem, frases que se desmentem. A insistência no "não". Leia-se: "A cidade movia-se como um barco. Não. Talvez o chão se abrisse em algum lado. Não. Era a tontura. A despedida. Não. A cidade talvez fosse de água. Como sobreviver a uma cidade líquida? (Eu tentava sustentar-me como um barco). As aves molhavam-se contra as torres. Tudo evaporava: os sinos, os relógios, os gatos, o solo. Apodreciam os cabelos, o olhar. Havia peixes imóveis nas soleiras das portas. Sólidos mastros que seguravam as paredes das coisas. Os marinheiros invadiam as tabernas. Riam alto do alto dos navios. Rompiam a entrada dos lugares. As pessoas pescavam dentro de casa. Dormiam em plataformas finíssimas, como jangadas. A náusea e o frio arroxeavam-lhes os lábios. Não viam. Amavam-se depressa ao entardecer. Era o medo da morte. A cidade parecia de cristal. Movia-se com as marés. (Eu ficara exactamente no lugar de onde saiu.)" O que nos deslumbra é a concisão irradiante das frases. Exemplos: "É uma cidade onde ninguém diz a verdade." "Ela que morria de medo de morrer." "Ela morria tantas vezes / porque morria de medo de morrer." "Não há na cidade um lugar / com lugar." "Só mais tarde entendi o que procurava: um mar." A cidade é triste. Há um lado chuvoso, de Inverno e fim de tarde. Há sobretudo uma imensa solidão. As pessoas andam distantes. Despedem-se dos outros e de si mesmas, morrem de uma morte clandestina. "Nos dias tristes não se fala de aves. / Liga-se aos amigos e eles não estão/ e depois pede-se lume na rua / como quem pede um coração / novinho em folha. // Nos dias tristes é Inverno / e anda-se ao frio de cigarro na mão / a queimar o vento / e diz-se bom dia! / às pessoas que passam / depois de já terem passado / e de não termos reparado nisso. // Nos dias tristes fala-se sozinho / e há sempre uma ave que pousa / no cimo das coisas / em vez de nos pousar no coração / e não fala connosco." Contudo, tu estás presente e alteras a luz de todas coisas. Suspendes o pesadelo. "A rapariga por baixo da luz verde / da árvore / parecia usar a máscara disforme dos pesadelos. //Era uma imagem nítida / quase branca. // Fumava. / olhava-se para dentro do medo / sem rosto / debruçada, lenta, circular. // Era noite. / Eu estava na rua à tua espera. / Na rua, não, no carro. / Eu estava no carro de vidros abertos / de olhos abertos / debruçada. // Mas felizmente tu chegaste / com a tua luz real (tão real) / para me interromper o pesadelo." Há um lindíssimo poema, que é um poema de amor, mas fala de outras coisas, porque o amor anda espalhado pelo mundo. Aqui o diálogo sóbrio, despojado faz-nos compreender a dureza das coisa e ao mesmo tempo a sua beleza: "Ela disse: Sou uma cidade esquecida. / Ele disse: Sou um rio. // Ficaram em silêncio à janela / cada um à sua janela / olhando a sua cidade, o seu rio // Ela disse: Não sou exactamente uma cidade, / Uma cidade é diferente de uma cidade esquecida. // Ele disse: Sou um rio exacto. // Agora na varanda / cada um à sua varanda /pedindo: Um pouco de ar entre nós. // Ela disse: Escrevo palavras nos muros que pensam em ti. / Ele disse: Eu corro. // De telefone preso entre o rosto e o ombro / para quao menos se libertassem as mãos / cada um com suas mãos libertas. / Ele temeu o adeus disse: Sou uma cidade esquecida. Ele riu."
De volta ao trabalho!
domingo, 9 de setembro de 2007
Mais um desafio da Calimera!
1º - Dia mais triste da minha vida : A morte do meu pai e a morte da minha avó.
2º Dia mais feliz da minha vida : Tenho vários dias mais felizes da minha vida... o dia em que o João me pediu em casamento, os dias de nascimento dos meus filhos, a primeira vez que pisei um palco, a primeira vez que fui responsável pela produção de um evento e mais...
3º Manias: sei que tenho algumas, especialmente no que diz respeito à maneira de fazer algumas coisas em casa... não consigo especificar, mas tenho várias!
4º Filme preferido: "O Piano" de Jane Campion entre outros... muitos
5º Poeta preferido: Fernando Pessoa, Vinicius de Morais, Florbela Espanca, Maria do Rosário Pedreira e de certeza que há mais dos preferidos... depende do estado de espírito!
6º Comida preferida: Peixe, muito peixe, de qualquer forma, peixinho...
7º Sou muito: Apaixonada, lutadora
8º Viagem de sonho: Austrália
9º Gosto de: Passar um fim de dia sentadinha no sofá com o maridinho, nos miminhos :-)
Agora também tenho de passar este desafio supostamente a 7 pessoas... Como este é um desafio que acho engraçado passo a todos os meus visitantes!
2º Dia mais feliz da minha vida : Tenho vários dias mais felizes da minha vida... o dia em que o João me pediu em casamento, os dias de nascimento dos meus filhos, a primeira vez que pisei um palco, a primeira vez que fui responsável pela produção de um evento e mais...
3º Manias: sei que tenho algumas, especialmente no que diz respeito à maneira de fazer algumas coisas em casa... não consigo especificar, mas tenho várias!
4º Filme preferido: "O Piano" de Jane Campion entre outros... muitos
5º Poeta preferido: Fernando Pessoa, Vinicius de Morais, Florbela Espanca, Maria do Rosário Pedreira e de certeza que há mais dos preferidos... depende do estado de espírito!
6º Comida preferida: Peixe, muito peixe, de qualquer forma, peixinho...
7º Sou muito: Apaixonada, lutadora
8º Viagem de sonho: Austrália
9º Gosto de: Passar um fim de dia sentadinha no sofá com o maridinho, nos miminhos :-)
Agora também tenho de passar este desafio supostamente a 7 pessoas... Como este é um desafio que acho engraçado passo a todos os meus visitantes!
Corrente da Amizade
Mais uma vez a Calimera se lembrou de mim. Desta vez numa corrente de amizade.
Como já sabem não sou muito fã das correntes e até tenho algum receio, por um lado de me esquecer de alguém e por outro que alguém se aborreça por eu incluir na corrente... assim passo esta corrente de amizade, porque me parece que o seu espírito é muito positivo, a todos os que visitam este meu cantinho com o carinho da amizade! E obrigada Calimera:-)
Como já sabem não sou muito fã das correntes e até tenho algum receio, por um lado de me esquecer de alguém e por outro que alguém se aborreça por eu incluir na corrente... assim passo esta corrente de amizade, porque me parece que o seu espírito é muito positivo, a todos os que visitam este meu cantinho com o carinho da amizade! E obrigada Calimera:-)
Dublin
You Belong in Dublin |
Friendly and down to earth, you want to enjoy Europe without snobbery or pretensions. You're the perfect person to go wild on a pub crawl... or enjoy a quiet bike ride through the old part of town. |
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