segunda-feira, 19 de março de 2007
Dia do Pai
Este é o meu pai. Foto tirada noutros tempos. Nos tempos da sua juventude. Um galã... parecido com o Humphrey Bogart... todos o diziam!
Não é fácil falar do meu pai. Nem é fácil falar da relação que tínhamos, turbulenta... mas nos momentos de harmonia, infelizmente poucos, era feliz...
Das memórias vêm sempre os magnificos momentos passados na praia e especialmente no mar. Era um excelente nadador, com ele aprendi a nadar nos calmos mares de Sines, na praia de St. Tropez, antes da existência da refinaria. Era bem pequenita e ia com ele e com as minhas irmãs, as três nas boias atrás dele até longe, longe, lembro-me de ver as pessoas na praia muito pequeninas de tão longe que íamos. Parecíamos três patinhos atrás dele... lembro-me dos ralhetes que a minha mãe lhe dava por ir connosco para tão longe no mar...
Depois de Sines veio a Costa da Caparica, a praia do Castelo... passávamos dias inteiros até à noite na praia... Era um amante da praia e do mar! Na praia do Castelo era amigo dos nadadores salvadores e dos donos do restaurante... São inesquecíveis os banhos de mar com ele e com os banheiros, eram 2, íamos uma com cada um, na bandeira vermelha, passávamos a rebentação sob as ordens de mergulho deles e nadávamos, nadávamos até longe... à volta vínhamos agarradas aos ombros em carreirinha nas ondas enormes... e claro no final o ralhete da mãe, ralada até mais não...
Éramos quase sempre os últimos a sair da praia. A minha mãe fazia uns piqueniques fantásticos que íamos comendo ao longo do dia, muitas vezes já o sol se punha e ainda andávamos no mar. E tantas outras vezes acabávamos o dia a comer peixinho bem fresquinho no restaurante da praia.
Não são muitas as memórias com o meu pai e as melhores são todas passadas ao ar livre. Os passeios em Sintra, na Quinta do Rei no Ribatejo e na Serra d'Arrábida e as idas ao Portinho d'Arrábida de barco... São memórias da minha meninice, as melhores, muito boas mesmo...
Benfiquista ferrenho, gráfico que se entregava com paixão ao seu trabalho... foi artista em tempos... tinha uma mão para o desenho e para a pintura fantástica...
Infelizmente perdeu este lado de amante da vida e perdeu-se bastante no meio decadente dos gráficos da altura...
Entrou numa fase bem negra... a bebida... a separação... ficou doente... não soube reagir... e perdeu-se...
Morreu num acidente de viação... ele ia a conduzir... estava alcoolizado, mas por ironia do destino a culpa não foi dele...
Morreu e mostrou-me como é frágil a vida... como tudo se desmorona de um dia para o outro...
Morreu num momento menos bom da nossa relação... não me arrependo de grandes coisas com ele, tenho a certeza que fiz tudo o que estava ao meu alcance... fiz mesmo o possível e o impossível para tentar ajudá-lo...para que ele se tratasse... para que desse mais valor a nós e à neta, a Andreia foi a única que conheceu... mas não consegui, porque ele também não queria... apenas me arrependo de não lhe ter dito mais vezes que o amava e que mesmo assim como ele era poderia sempre contar comigo...
Aproveito este dia do pai, para o lembrar da melhor forma que o conheci... dos passeios... da praia... e especialmente do mar! É aliás da forma que normalmente o lembro. Boémio, amigo da farra, muito amigo dos seus amigos às vezes até um pouco "banana" nas mãos de alguns menos escrupulosos...
Eterno admirador do irmão, por ele chorou sentidamente quando morreu, chorou como se chorasse um pai, que é o que era o meu tio na realidade para o meu pai... chorou sentidamente a bisavó Carmen, sua mãe de coração... e chorou repetidamente e sentidamente a separação da minha mãe... não soube amá-la nem compreendê-la...
Mas, ao mesmo tempo, enquanto por um lado negava a vida era um grande amante dela e viveu a vida em grandeza... com pouca responsabilidade!
Adorava a neta, com quem esteve talvez meia dúzia de vezes... quando estava com ela parecia que renascia e ficava um garoto como ela... brincava com ela no chão, andava de gatas, pulava com ela, faziam trinta por uma linha...
Esta foto foi tirada em 1997 na casa de Alcântara da Beatriz. É talvez a foto mais recente que tenho dele... Lembro-me que estava chateada com ele, não me lembro porquê... mas as caras dos dois na foto, dizem tudo sobre a cumplicidade e alegria que tinham quando se viam!
Tenho pena que a Leonor e o Sérgio (nome dado em homenagem ao meu pai) não tenham conhecido o avô.
E hoje que é dia do pai, tenho saudades do meu pai. Tenho saudades dos petiscos e até tenho saudades de algumas brigas.
Hoje que é dia do pai, quero dizer que apesar de tudo tinha e tenho orgulho no meu pai.
Hoje que é dia do pai quero dizer PAI AMO-TE E TENHO MUITAS MESMO MUITAS SAUDADES TUAS.
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